O ano era 1988, apenas um ano após a perda da minha mãe. Estávamos ainda imersos no luto, tentando encontrar alguma forma de seguir em frente. Morávamos com nossos avós em um terreno vasto, e foi nesse cenário que, diante de nossa casa, montaram um circo. A cada manhã, por volta das 6h, e cada noite, por volta das 18h, éramos acompanhados por uma melodia que, até hoje, carrego no coração: Sonho de Amor, interpretada por Patrícia Marx. Eu e meu irmão Daniel nos sentávamos na porta, ouvindo não só essa música, mas todas as canções do álbum que ecoavam do circo. Logo percebemos que o dono do circo parecia adorar a cantora, pois deixava a música tocar incessantemente, como se fosse uma trilha sonora que se unia ao nosso silêncio.

Para nós, aquele som se tornou um pequeno refúgio. Um momento de paz em meio ao caos, uma espécie de fuga das dores que estávamos vivendo. Naquele período, optamos por não ligar a vitrola que nossa mãe nos havia deixado, respeitando o luto e o sofrimento de nossos avós, que também estavam enfrentando perdas imensuráveis. Olho para trás agora e vejo o quanto eles foram fortes, embora, com o tempo, seus próprios passos parecessem se arrastar, como se estivessem definhando dia após dia.

Todos os dias, eu e meu irmão nos sentávamos no batente da porta, com a esperança de ouvir novamente a doce playlist de Patrícia Marx vinda do circo. Hoje, sempre que escuto Sonho de Amor, é como se fosse uma viagem no tempo, uma oportunidade de voltar àquele período e sentir de novo o consolo que a música nos ofereceu. Ela nos ajudou, de alguma forma, a superar o desespero e a angústia de um luto precoce. É impressionante como a música tem esse poder de acalentar a alma, nos dando esperança, seja pela mensagem de suas letras, seja pela fantasia de um momento de felicidade que parecia impossível em meio aos escombros.

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Por: Antonio Marcos de Souza. 10 de fevereiro de 2025.