Certamente você já passou por situações em que esperava ajuda e consolo, mas percebeu que ficou apenas na expectativa. Ninguém veio, ninguém se importou, ou pelo menos fingiu se importar. Ledo engano. O oposto também é verdadeiro: quando você derrapou, caiu e se machucou, sua vida virou manchete do dia, da semana e até de meses. As especulações são diversas, e o interessante é que você percebe o enredo já ensaiado: "Está vendo? Eu já sabia... Era só uma questão de tempo... Não enganava ninguém... Eu sempre tive razão."

Sempre há aves de rapina, corvos e hienas sanguinárias esperando o último suspiro para estraçalhar a vítima. E o curioso é que elas fazem isso “rindo”. Já viu algumas delas na savana africana? Pelo menos em documentários da vida selvagem, sim. Mas como não estamos numa savana literal, as analogias são sempre vorazes e verdadeiras. Ninguém vem para tecer elogios (seja por fingimento), mas críticos de plantão e juízes da vida alheia estão sempre prontos a opinar. Segundo suas regras, ninguém atinge a perfeição; para eles, ninguém está à altura.

Toda essa história falo por mim e sobre mim. A corrida diária é para você ser melhor a cada dia, porque esses “magistrados” estão desenfreados para te julgar, e isso, de fato, cansa, exaure, mina as forças. Hoje, isso não me atinge mais. Essas cobranças e ditames já não fazem diferença; os olhares de julgamento não me incomodam. Aprendi com meus avós a buscar satisfação pessoal, e por muitos anos esqueci disso. Após acessar algumas memórias, percebi que não merecia tantas coisas que deixei passar, que permiti seguir, vivendo por imposição e no modo cansado, como se estivesse com 5% da bateria emocional, da vida, da saúde. Agora, não me importo mais com nada que não some forças, que não diminua abismos, que multiplique verdades e divida sonhos. Sendo exatamente eu, apego-me à responsabilidade aprendida, ao amor genuíno e à amizade fraterna que sempre desejei. Dessa forma, estarei ao lado de quem realmente importa e se importa, que fale, grite, esperneie sem perder o charme, a leveza na voz, sem ser abafada jamais pelas convenções dos outros. Meus pés não serão podados para caminhar por caminhos que dizem não ser para mim, e olharei para onde meus olhos desejam, observando.

Hoje e em tantos outros “hoje” serão mais leves, porque farei com que sejam. Serei menos ansioso, porque farei meu dia ser por vez, pois, apesar do que muitos esperam, eu já estou fazendo.