"E daí, se meu luto não acabou?"
Num mundo que acelera, onde os segundos correm e as horas voam, o luto se torna um desconforto silencioso para muitos. Existe uma pressão implícita para que superemos rapidamente nossas perdas, para que voltemos ao "normal" o quanto antes. Mas, e daí se meu luto não acabou? E se as feridas não se fecharam tão rapidamente quanto o mundo espera?
Luto é um processo individual, tão único quanto a relação que tínhamos com quem perdemos. Não é algo que possa ser apressado ou programado para se encerrar em um determinado prazo. É uma jornada de reconciliação interna, de aceitação da ausência, de aprendizado em conviver com uma falta que antes era presença.
Esse caminho não é linear. Ele é composto de altos e baixos, de momentos de paz seguidos por outros de intensa saudade. Há dias em que a memória aquece o coração com lembranças doces, e há dias em que a mesma memória traz uma tempestade de dor. E está tudo bem. Cada um desses momentos é um passo no processo de cura, mesmo que às vezes pareçam passos para trás.
O luto não tem um fim determinado, pois o amor não tem prazo de validade. Aprender a viver com a ausência não significa esquecer ou deixar de amar; significa encontrar um novo equilíbrio, uma nova maneira de amar quem se foi. Significa permitir-se rir e chorar, recordar e, às vezes, sentir a falta tão profundamente que parece que nada mudou.
E daí se meu luto não acabou? Isso não me faz mais fraco, menos capaz de seguir em frente, nem menos merecedor de alegrias futuras. Significa apenas que estou vivendo o meu processo, respeitando meu tempo e minhas emoções. Significa que estou tentando encontrar luz, mesmo nos dias mais escuros, e que estou aprendendo a conviver com a saudade, fazendo dela uma parte da minha história, não a sua totalidade.
Se você está passando por um luto, saiba que não está só. Não se apresse, não se cobre demais. Seu coração tem o ritmo dele, e está tudo bem seguir esse ritmo, mesmo que o mundo ao seu redor pareça não entender. E daí se seu luto não acabou? O que importa é que você continua caminhando, à sua maneira, no seu tempo. E isso é tudo que realmente importa.
Minha amada mãe, trinta e sete anos de saudade, de falta. 37 razões para jamais esquecer, pois diferente do comum, não quero esquecer, preciso sempre lembrar dessa saudade, preciso sempre lembrar para manter viva. E daí, se meu luto não acabou?