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DESEJO E REPARAÇÃO

Ao longo da vida, acumulamos mágoas e sofrimentos, seja por algo que causamos a alguém ou que nos causaram.

Publicada em 18/11/23 às 19:37h - 130 visualizações

Antonio Marcos de Souza


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DESEJO E REPARAÇÃO
 (Foto: Internet)

Hoje do nada pensei que a vida e morte desencadeiam em nós uma série de sentimentos. Durante a vida, lidamos com perdas e partidas, algumas por escolha própria, ao decidirmos ir embora e outras na buscar por melhorias. Então, lembrei-me da frase de Anne Frank: "Os mortos recebem mais flores do que os vivos porque o remorso é mais forte que a gratidão." Mil pensamentos passaram pela minha cabeça, construindo imagens daquele que seria meu momento. Pode parecer mórbido e tenebroso, mas eu sou assim, indo de um extremo a outro num instante.

Ao imaginar como seria meu velório, você, que está lendo, pode pensar que seria igual ao de todo mundo, mas é no roteiro que a coisa fica mais interessante. Ao longo da vida, acumulamos mágoas e sofrimentos, seja por algo que causamos a alguém ou que nos causaram. Perdoamos, exigimos perdão, pedimos desculpas e desculpamos, mas muitas vezes outros não voltam para reparar o dano ou reconhecer que machucaram alguém. Isso dói ainda mais quando o outro não reconhece o mal que causou. Ouvimos que é melhor deixar para lá, mas é como um quadro valioso apunhalado e rasgado por alguém que não entende de arte.

Voltando à questão da partida, imaginei como seria interessante ter a possibilidade de ver quem estaria presente nesse momento. Certamente, gostaria de observar quem choraria e lamentaria verdadeiramente a perda. O instante mais aguardado seria ver aqueles que me machucaram, diante daqueles a quem um dia passaram anos sem falar, devedores de desculpas e reparos. Na cena, você veria lágrimas, soluços e abraços aos meus familiares e amigos presentes. Em determinado momento, ouviria palavras bonitas, admiração, e o quanto eu era uma pessoa boa. Imagino minha reação ao ver essa cena, questionaria o porquê de agora? Indagaria sobre a postura? Desmascararia e exporia o remorso? Jamais seria vingativo, mas deploraria veementemente tal situação constrangedora até no leito de morte.

Também seria possível perceber a decepção daqueles que eu esperava ver, mas que não apareceram, apenas enviaram condolências à família. Outros apareceriam de relance, se despediriam por alguns minutos e desapareceriam.

Na outra parte da cena, alguns contariam e conversariam sobre tudo, ririam até naquele momento, cobrariam por coisas, falariam e opinariam sobre outros, enquanto eu observaria, analisando cada gesto e situação. Então, chegaria o ápice mais emblemático que separa a vida da morte: o instante em que pela última vez seria carregado e levado.

Desde o nascimento, somos carregados nos braços, sendo levados assim por alguns anos. Durante a vida, somos como que levados por abraços que nos tiram do chão por alguns instantes. Agora, seríamos carregados pelas mãos de alguns, fechando um ciclo, terminando a tutela da dor e do sofrimento, cessando as memórias, desejos e sonhos que são espalhados como num sopro.

É claro que ninguém que morre vê ou sente o que se passa ao seu redor. Aqui, fiz apenas um relato poético de como gostaria de saber sobre minha partida. Nesse ponto, nunca serei surpreendido, e a vida, como o maior bem que alguém possa ter, se desfaz como um fio que se rompe, quase sempre sem nenhum esforço para isso.

Julgamos ser alguma coisa, pensamos ser ou ter mais que outros, supomos, deduzimos, falamos de coisas por uma vida inteira, sobre nós, sobre outros, julgamos e somos julgados. Machucamos e causamos dor, tentamos reparar ou não ao que se exige.

Que coisas damos importância? Quais pessoas nos são caras? Quais gestos somos capazes de exprimir? Quais afetos somos capazes de demonstrar? As respostas às vezes pode ser perturbadoras.

Sem parecer clichê, vivamos nossa vida como um sopro. Nesse instante de respirar e expirar, mesmo que seja bem rápido, faça o seu melhor, viva bem, faça o bem, tenha uma vida boa e faça valer a pena.

* Título desse texto, extraído do tema original do livro escrito por Ian McEwan (Atonement) "Desejo e Reparação."  do qual dou os créditos pelo uso como título do meu texto.


Texto de Antonio Marcos de Souza, 18 de novembro de 2023 às 19h33min.



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