Mãe onde colocou minhas meias? Mãe, não achei minha camisa! Mãe, posso ir no campinho de futebol? Mãe, pode me dar um cruzeiro para comprar papel pautado para ser um trabalho? Mãe....estou com fome! Mãe, no fim do ano pode comprar aquele tênis para mim? Mãe é para a senhora ir na escola assinar meu boletim....
Para mim essas frases nunca serão pronunciadas, nunca terão sua sonoridade reverberando nos cantos de casa. Mais dolorido é que as respostas da mãe também para mim nunca foram e serão pronunciadas. Mãe sempre faz o impossível para realizar os sonhos e desejos dos filhos. Todas as frases acima é fruto de ter ouvido de outros filhos para sua mãe. Mas não lembro em nenhum momento de ter falado alguma delas para minha, na verdade lembro muito pouco. Era uma mulher muito dinâmica, forte, audaciosa. Criou quatro filhos sozinha, numa época que emprego era uma miséria, o salário era engolido pela hiperinflação dos anos 80. Nunca vimos ela se desmoronar por nada, por nenhuma dificuldade e naquela época, os que tem mais de 40 anos sabem do que estou falando.
Eu gostaria de ter dito tudo do coração. Não frases de cobrança, pedidos ou desculpas por ter feito algo. Mas dizer uma única frase: "EU TE AMO". Queria muito ter ouvido o som dessa frase dita e gravado a sonoridade no coração. Era essa emoção que amaria ter vivido, presenciado. Sempre acontece o contrário, mãe sempre diz aos filhos que ama, principalmente quando são bebês e crianças elas sempre dizem: "Coisa mais linda da mamãe!" Mamãe ama essa coisa gostosa". E de novo reproduzo frases só por ter ouvido de outras para os seus.
No meu íntimo gostaria de tê-las ouvido e de ter dito também. Mas como tudo na vida é instante e transitório, a gente se perde no tempo e com ele a chance de expressar. Perdemos oportunidades únicas de dizer tantas coisas boas para outras pessoas, de falar abertamente ao coração do outro..., mas nos calamos. Reprimimos sentimentos e somos nós que saímos perdendo por guardar, não sei para o quê e nem para quem. O tempo passa e toma esses instantes sutis que nunca voltarão, essas horas que nunca se repetirão e esse mesmo sol que nunca raiará com a mesma luz daquele dia. A vida sempre na pressa de que, nada é nosso e só o tempo [tão maldoso as vezes] para nos mostrar essa realidade.
20 DE SETEMBRO DE 1987, um dia que mudou o rumo de minha história.